Recentemente, redescobri o prazer de pescar.
Cresci sem a presença de um pai, mas aos 5 anos, graças a um primo mais velho, fui apresentado a um mundo natural, onde a pescaria se tornou uma forma de sobrevivência e, principalmente, de diversão. Como muitas crianças, eu passava grande parte do meu tempo livre com amigos, explorando as matas, rios, riachos e praias que cercavam a cidade onde vivo. Construí meu próprio equipamento de pesca, o que me permitia prosperar fora de casa, sempre aprendendo e evoluindo.
Muitas vezes, eu e meus amigos passávamos horas ao redor dos rios e no meio do mato. Sinto que nasci na época errada, pois nunca me impressionei com toda essa tecnologia moderna. Tive a sorte de aproveitar uma infância sem celulares, computadores ou videogames — coisas que, naquela época, apenas quem tinha mais dinheiro possuía. Eu me divertia brincando na terra, pescando, jogando taco e fazendo fogueiras em terrenos baldios. Lembro-me bem das ramas de batata-doce nesses terrenos; pegávamos as batatas para assar nas fogueiras que acendíamos.
Brincávamos nas ruas de terra, sem muitos carros, com bastante espaço para correr. Hoje, isso mudou. As crianças não brincam mais nas ruas; estão presas em casa com computadores e celulares. As ruas foram asfaltadas, os carros aumentaram, e o espaço para brincar se foi. A violência também cresceu, tornando tudo ainda mais restrito.
Por volta dos 10 ou 11 anos, fui introduzido à caça. Junto com alguns amigos de mente parecida, passávamos dias pescando e caçando. Trazíamos de volta peixes, passarinhos, saruês e lagartos. Competíamos com nossos estilingues, atirando em latinhas. Eu adorava essas aventuras no mato, sempre em busca da forquilha perfeita para os estilingues que, quando quebravam, eram substituídos por outro que eu já tinha preparado.
Com o tempo, aprendi a respeitar e valorizar a natureza. Esse estilo de vida se fortaleceu conforme eu envelhecia. Descobri que a pesca e a caça eram apenas parte de mim; completava-me também o surf, o skate e a capoeira. A vida ao ar livre era tudo para mim — meu mundo. Cada dia era uma nova oportunidade de testar meus limites, sem medo.
Minhas aventuras ocasionais se tornaram uma prática diária. Eu amava essa rotina de acordar cedo e escolher entre pescar ou caçar. Mesmo sendo tão jovem, desenvolvi meus próprios equipamentos: varas de bambu e de carretilha, uma pequena caixa de pesca com diferentes tipos de linhas, anzóis, boias, chumbadas, além de um canivete suíço, uma faca que encontrei em uma pescaria, um facão e uma pequena enxada para cavar minhocas. Claro, sempre tinha meu estilingue à mão.
Hoje, para pescar, preciso de ajuda. Alguém me leva até o rio, coloca a vara na minha mão esquerda, isca o anzol e retira o peixe. Minha participação agora se resume a segurar a vara, lançar a linha e fisgar a cada beliscada.
Ainda amo estar ao ar livre, apesar de não poder praticar essas atividades sozinho como antigamente. Mesmo assim, nunca perdi o desejo de aprender. Continuo buscando novas habilidades que me conectem com o mundo ao meu redor. Às vezes, sinto-me como um aventureiro preso, sem novas aventuras à vista, restando apenas as lembranças das antigas. Hoje, dedico meu tempo a relatar o que vivi e o que vivo, compartilhando as histórias do meu antigo mundo e do atual, na tentativa de preencher um vasto vazio de solidão.