"A minha mãe pode me ajudar com o dinheiro dela, mas eu não quero o dinheiro dela, eu quero o meu próprio dinheiro, eu quero me sustentar e não ser sustentado." Essa declaração reflete o desejo de muitos beneficiários do BPC de conquistar independência financeira e realizar seus sonhos sem depender da ajuda de familiares. A busca por dignidade passa pela capacidade de gerir as próprias finanças, adquirir bens e investir no futuro.
O sentimento de frustração é intensificado pela impossibilidade de acessar serviços financeiros básicos. "Como que eu vou ser alguém? Se eu não posso ter um cartão de crédito, comprar as coisas que eu preciso, as coisas que eu sonho em ter, eu não posso fazer uma compra e passar o meu CPF, eu não posso investir em nada mesmo que investindo pouco, eu não posso ter um carrinho de tapioca no meu nome. Onde fica a minha dignidade? Como eu posso me sentir alguém assim?" Essas questões são um grito de desespero por oportunidades de crescimento e participação plena na sociedade.
A realidade é que muitos se sentem desumanizados por um sistema que, em vez de promover a inclusão, parece perpetuar a dependência. "Isso chega a ser desumano, meritocracia não existe pra mim, porque eu quero melhorar de vida, mas perante as leis do governo eu não tenho direito." A meritocracia, conceito que prega que o esforço e o mérito pessoal deveriam ser suficientes para o sucesso, parece distante para aqueles que, por questões estruturais, não têm acesso às mesmas oportunidades.
O desejo de separação entre as finanas pessoais e as familiares também é uma questão central. "O que eu tenho a ver com a minha mãe? Ela é uma pessoa, eu sou outra." A autonomia financeira é vista como um passo crucial para a construção de uma identidade própria e o sentimento de dignidade.
Além disso, a busca por um emprego muitas vezes se torna uma armadilha. "Se eu for atrás de um emprego, vou ter que entrar pela cota, depois alguém vai ter que me levar e buscar, certamente vou ter que pagar alguém pra fazer isso, eu pagar não, a minha mãe, porque assim que eu arrumar um emprego o meu benefício vai ser cortado." Essa situação reflete a necessidade de reformular as políticas públicas para que elas incentivem a inserção no mercado de trabalho sem penalizar quem tenta se emancipar.
A indignação também se dirige à percepção de injustiça no sistema de distribuição de benefícios. "Sabe quem vai continuar com o benefício? São aquelas pessoas que não querem nada com nada, que ficam no bar bebendo, enquanto eu tenho o sonho de ter uma família, o sonho de ser mais do que um simples cadeirante." A generalização aqui expressa aponta para a necessidade de uma análise mais justa e criteriosa sobre quem realmente precisa e merece o benefício.
Em suma, as regras atuais do BPC precisam ser revisadas para que promovam mais do que a mera sobrevivência. Elas precisam abrir caminho para que cada beneficiário possa alcançar a independência financeira e realizar seus sonhos, garantindo não apenas a subsistência, mas também a dignidade e a inclusão plena na sociedade.